quarta-feira, 23 de março de 2016

Sistema Único de Saúde: impraticável e ineficiente


O serviço público de saúde brasileiro é criticado diariamente. Os jornais e organizações civis mostram cenas de pessoas atendidas de forma precária, macas no chão dos hospitais ou mesmo pessoas com doenças graves como câncer que estão sem atendimento. Certamente cenas e histórias comoventes aumentam a audiência desses meios de comunicação. Há ilhas de excelência no setor público de saúde, sempre menos televisionadas, mas, realmente, de forma geral, o brasileiro tem um acesso à saúde que deixa a desejar. Por que isso ocorre? Duas questões precisam ser discutidas: a impraticabilidade do SUS e a sua ineficiência.

Do ponto de vista histórico, o Sistema Único de Saúde, criado pela Constituição de 1988, na verdade, melhorou muito a assistência pública. Antes do SUS, a maioria das pessoas que hoje são atendidas em macas precárias seria atendida em suas próprias casas - em geral, também precárias - por vizinhos ou religiosos e, em casos de doenças graves, morria sem ter sido vista por um médico, já que custaria muito caro. Assegurar o direito à saúde a todos os residentes no Brasil foi, portanto, uma medida bastante altruísta de legisladores majoritariamente contrários ao período político anterior - a Ditadura Militar. O sentimento anti-governo de 1964 a 1985 era difundido principalmente por pessoas simpatizantes de ideias socialistas, como as implantadas na União Soviética (primeiro serviço público nacional de saúde do mundo) e em Cuba.

"A saúde é direito de todos e dever do Estado", diz a Constituição brasileira. O dever com a saúde individual, segundo a Constituição brasileira, é do Estado, não do indivíduo. É "outro" - o Estado - quem tem por dever zelar pela saúde de cada brasileiro. Do ponto de vista social e econômico, os "direitos" são divididos em dois grupos: os onerosos e os não onerosos. O direito à vida, à livre circulação e à presunção de inocência são regras para a boa convivência que podem gerar punição em caso de não cumprimento, mas não trarão ônus (custo), em caso de cumprimento. Os direitos onerosos, por outro lado, obrigam a contrapartida de alguém (do Estado ou de empresas, em geral) para que sejam possíveis. Dar "saúde" ou "educação" implica em custo. O dinheiro do Estado provém de impostos, portanto, tais direitos implicam em um ônus para os pagadores de impostos. Pagar impostos significa financiar o governo ao custo de diminuir a própria riqueza. Para cada indivíduo financiar a própria saúde, portanto, fica mais difícil a cada aumento de impostos. A carga tributária brasileira, desde a Constituição, subiu de cerca de 20% para os atuais 37% de toda a riqueza produzida no país (PIB). Isso tornou, consequentemente, mais pessoas incapazes de financiar a própria saúde e os tornou dependentes do Estado nesse quesito.

Na ponta do lápis
Do ponto de vista econômico, os gastos em saúde no Brasil, em proporção do PIB, são os mesmos 7,6% do PIB que a Inglaterra gasta. Foi o sistema inglês que inspirou o SUS brasileiro. As semelhanças param por aí. No Brasil, 42% disso são gastos pelo Estado, enquanto 58% são gastos privados. Na Inglaterra, por outro lado, 82% são gastos públicos. Mais importante que isso, é que, por pessoa, o governo inglês gasta muito mais. O PIB dos dois países é de cerca de 2 trilhões de dólares, mas no Brasil há 200 milhões de pessoas, enquanto a Inglaterra abriga 50 milhões. Por pessoa, portanto, a Inglaterra gasta cerca de oito vezes mais que o Brasil. É importante entender que, mesmo que não houvesse corrupção ou incompetência na gestão de saúde pública, hoje, para se ter o mesmo gasto por pessoa que a Inglaterra, o Estado brasileiro teria que aumentar os gastos em saúde pública de cerca de 200 bilhões para 1,6 trilhões de reais. Mais que o orçamento inteiro do governo federal. Matematicamente, portanto, é impossível. A Constituição criou, portanto, diversos bandidos desde que foi aprovada: todos os presidentes, governadores, prefeitos e secretários de saúde descumprem a Constituição no quesito saúde. E, pior, não seria possível cumpri-la. Quem infringe a Constituição é o que? O SUS, hoje, é, portanto, impraticável.

E se houvesse tantos recursos e os mesmos não fossem desviados pela corrupção, o SUS seria o sistema mais eficaz?

A resposta, mais uma vez, parece ser não. Ou, poderia, mas seria muito mais cara. A administração pública não é mais eficaz que a privada, o que a torna quase sempre pior e mais cara. E isso tem todo sentido. O que ocorre com o consumo de água em um prédio de apartamentos? As pessoas economizam mais água quando a cobrança vem embutida na conta do condomínio ou quando há uma conta individual por apartamento? A cobrança coletiva traz uma sensação de ser de graça, o que desincentiva o comedimento, de modo que a cobrança individual quase sempre resulta em queda de consumo.

Demanda infinita
Uma das primeiras experiências profissionais deste que vos escreve foi como médico de família de um município de 20.000 habitantes que contava com cinco médicos em cinco postos de saúde. Estes cinco médicos decidiram contabilizar o número de consultas médicas desnecessárias. Como realmente aparentava, o resultado de dois meses de coleta foi cerca de 50% de consultas desnecessárias. Havia de tudo, pessoas que agendavam consulta para "conhecer o doutor novo", havia consulta para substituir papeis de solicitação de exames, consultas de retorno antes do solicitado, consultas burocráticas para renovar receitas de medicamentos, gripes simples no primeiro dia de doença, entre outras. Este município pobre do interior do Ceará, um estado pobre, estava desperdiçando 50% das consultas médicas. Como o salário de cada um era cerca de 8000 reais, em dinheiro, esse desperdício significava 240.000 reais por ano. Por que isso acontecia? A resposta parece estar na economia: é o fenômeno de demanda infinita. É natural para o ser humano valorizar produtos escassos. O ouro, por exemplo, é valorizado, desde o início da civilização, por ser durável e raro. Quanto mais raro, mais valorizado. Se as consultas fossem pagas, a demanda por consultas seria uma. Quanto mais cara, menor a demanda. De modo oposto, quanto mais barata for a consulta, maior será a demanda. Uma consulta gratuita possui, então, demanda infinita. Pela lógica da economia, portanto, os sistemas de saúde gratuitos, nunca serão suficientes, pois a demanda sempre será maior que a oferta de serviços. Isso ocorre mesmo em países desenvolvidos. A demora por diversos procedimentos médicos é maior na Inglaterra e no Canadá do que nos Estados Unidos, por exemplo.

Há diversos exemplos na saúde pública de desperdícios de recursos. Mesmo com um orçamento insuficiente, há muito desperdício. Por que isso ocorre? Porque quem paga a conta não é quem desperdiça, mas terceiros que nada têm a ver com isso. O pagador de impostos não participa da decisão de "quantas seringas de 60mL serão compradas para um serviço de saúde que, por algum motivo, não usa seringas de 60mL". Se fosse numa clínica privada, em geral, nenhuma seringa seria comprada, mas no serviço público, muitas vezes, há compra de várias. Elas perdem a validade e vão para o lixo. Quem fica com o prejuízo é o administrador da clínica pública? Não, é o pagador de imposto, que nem sabe que essas seringas são compradas.

O SUS, como todo sistema público, é ineficaz.
As licitações por menor preço levam muitas vezes à compra de produtos de qualidade ruim. Muitos equipamentos permanecem ociosos por meses por algum motivo (falta de contratação de quem os instalará ou utilizará, por exemplo). Em resumo: O SUS, como todo sistema público, é ineficaz. O mesmo recurso, se administrado por uma empresa, geraria mais oferta de saúde do que a oferta gerada pelo poder público.

Atendendo o público pediátrico num serviço público, este que vos escreve já atendeu diversas vezes crianças com dentes em mau estado de conservação. Até hoje, todos os pais (todos mesmo) ao serem informados sobre isso, responderam, justificando-se, que estão com dificuldade em agendar um dentista pelo SUS. O que é mais eficaz, escovar os dentes ou esperar o dentista? Talvez em 1950, muitas pessoas humildes desconhecessem a importância da higiene bucal. Hoje, no entanto, é de conhecimento universal que escovar os dentes protege os mesmos contra problemas, e é assunto de disciplina escolar em todas as escolas públicas. A reação esperada para o diagnóstico de cáries no dente deveria ser "puxa, vou escovar mais meus dentes (ou os do meu filho)", não "estou esperando pelo dentista". Esperar pelo dentista parece ser o efeito de a saúde ser um "dever do Estado" ao invés de "dever próprio de cada um". O SUS é, portanto, uma terceirização da responsabilidade de se cuidar. Claro que não deu nem nunca dará certo.

A solução
O governo obriga a pessoa a pagar pelo convênio de saúde (o SUS, através de impostos), pois acredita que, de outra forma, as pessoas não pagariam por seus próprios convênios médicos. Claro que há pessoas muito pobres no Brasil que não poderiam arcar com suas próprias despesas de saúde. Para essas pessoas poderia ser oferecido pelo governo o pagamento mensal de um plano de saúde. Seria um subsídio para quem precisa. O restante teria a liberdade de gastar seu dinheiro a mais (já que pagaria menos impostos) da maneira que lhe conviesse, seja pagando um seguro de saúde, seja investindo para gerar riquezas.


A ineficiência é inerente ao setor público. Países desenvolvidos possuem setores públicos mais organizados, mas, mesmo lá, a iniciativa privada é mais produtiva (faz mais com menos). Cabe à população optar por ser responsável por sua saúde pagando menos, ou terceirizar isso para o governo, pagando mais.


Márcio Salmito

quarta-feira, 16 de março de 2016

Muro branco, povo mudo!

Penso sobre nós, e então escrevo para tentar analisar e me libertar... Escrevo para mudar! Escrevo para aprender a conviver com a minha moral e a questioná-la. Assim o ângulo muda, o desejo de reciclagem aflora e o que é oposição sem fundamento se submete a uma reflexão. 

Entre linhas e mais linhas, os valores entram em crise, mudam e mostram-se sem forças para continuarem vivos. A velocidade da informação que chega também assusta, ora mais, como não? É tudo passando de muito novo para muito velho. A falta de habilidade com o conhecimento muitas vezes se encaixa em qualquer parágrafo e se faz pronta sem muito rodeio. A opinião? Ela tá aí, pronta pra quem pediu e quem não pediu.

O jeitinho brasileiro ainda se confunde entre problema e solução, mas não resistiu e também caiu na roda! Agora todo mundo fala, aponta, questiona e interpreta como quer e quando quer, afinal, produzir os próprios conteúdos se tornou a base do esquema. Entender a corrupção não é mais pensar como essência nem estado, é questionar o porquê da tal ruptura com os valores.

Sem medo de criar novas instituições e modos de vida, a individualidade ganha força na sociedade para construções históricas. Fronteiras geográficas são assim: perderam o nosso apego, afinal, convivemos com a globalização desde muito cedo ou sempre.
  
Bem, a minha geração é assim. Mais do que uma divisão e definição de X, Y ou Z, estamos todos juntos como se fôssemos papais de primeira viagem. Zapeando os erros e medos, mas lutando pela igualdade e maturidade. Mas qual geração não se sentiu ou ainda não vai se sentir assim? 

Então me resta escrever. Escrever para perder certezas e ganhar incertezas, escrever para guardar e para expor. Escrever para conseguir escrever mais ainda.
Sem pressão e por amor.
Foi assim que eu aprendi e continuo aprendendo. 

Minha ferramenta é essa, qual é a sua?

Bárbara Polyne 

quarta-feira, 9 de março de 2016

Do Lado de Cá, da Plebe


A pessoa chega e me diz: olha, você pode escrever sobre o que quiser! Vá lá: “justiça social, preconceito racial, cotas, cultura... até temas batidos como lava-jato e pt/psdb... sei lá”. Nesses termos! Como proceder? Apesar de hesitar bastante, não resisti a um convite de tamanha envergadura.
Eu sou um animal político. Não consigo viver alheia ao tema. Mas daí a dar a cara a tapa expondo minhas caraminholagens são outros quinhentos. Resisti o quanto pude! Gosto de observar, mas sou tendenciosa. Não confiem nas minhas conclusões. 

Meu repertório é enviesado, meu vocabulário é limitado, minha estilística é pobre. Que atire a primeira pedra quem nunca entrou numa discussão sem dominar o assunto.
Daí que eu andei pensando sobre essa incerteza que paira sobre o futuro nacional. Momento de impasse, momento indefinido. Não sei o que esperar e não sei por quem torcer. Talvez consiga listar o que não quero: retrocesso, intolerância, indiferença.
Contudo, infelizmente, vislumbro no horizonte algo sombrio. Não me refiro à prolatada crise econômica. Essa superaremos, mais dia, menos dia. O que me assusta é um certo orgulho em ser retrógado, preconceituoso, agressivo. Isso fatalmente escorrerá para a política, se é que não já aconteceu, visto que temos o Congresso mais conservador desde 1964. A meu ver, conquistas sociais importantes podem estar ameaçadas. “O levantamento da Diap mostra que o número de deputados ligados a causas sociais caiu drasticamente[1].”
É difícil lutar por um país mais justo, mas não podemos deixar de sonhar. E tome clichê! Sim, tenho minhas pautas. Vou deixar meu fascínio pelos direitos humanos em stand by por hora!
O fato é que os grupos de sempre transitam pelo poder, variando apenas em número – para mais ou para menos – a depender da época. Ou não! Quem se atreve a desafiar esse esquema deve se preparar para as pedradas.
Por Deus que pessoas lúcidas nos ajudam a entender que, do lado de cá, da plebe, “a despeito de toda aparente diferença, o que se quer é rigorosamente o mesmo” (Lia Sanders).

Adriana Abreu



A pessoa chega e me diz: olha, você pode escrever sobre o que quiser! Vá lá: “justiça social, preconceito racial, cotas, cultura... até temas batidos como lava-jato e pt/psdb... sei lá”. Nesses termos! Como proceder? Apesar de hesitar bastante, não resisti a um convite de tamanha envergadura.
Eu sou um animal político. Não consigo viver alheia ao tema. Mas daí a dar a cara a tapa expondo minhas caraminholagens são outros quinhentos. Resisti o quanto pude! Gosto de observar, mas sou tendenciosa. Não confiem nas minhas conclusões. 
Meu repertório é enviesado, meu vocabulário é limitado, minha estilística é pobre. Que atire a primeira pedra quem nunca entrou numa discussão sem dominar o assunto.
Daí que eu andei pensando sobre essa incerteza que paira sobre o futuro nacional. Momento de impasse, momento indefinido. Não sei o que esperar e não sei por quem torcer. Talvez consiga listar o que não quero: retrocesso, intolerância, indiferença.
Contudo, infelizmente, vislumbro no horizonte algo sombrio. Não me refiro à prolatada crise econômica. Essa superaremos, mais dia, menos dia. O que me assusta é um certo orgulho em ser retrógado, preconceituoso, agressivo. Isso fatalmente escorrerá para a política, se é que não já aconteceu, visto que temos o Congresso mais conservador desde 1964. A meu ver, conquistas sociais importantes podem estar ameaçadas. “O levantamento da Diap mostra que o número de deputados ligados a causas sociais caiu drasticamente[1].”
É difícil lutar por um país mais justo, mas não podemos deixar de sonhar. E tome clichê! Sim, tenho minhas pautas. Vou deixar meu fascínio pelos direitos humanos em stand by por hora!
O fato é que os grupos de sempre transitam pelo poder, variando apenas em número – para mais ou para menos – a depender da época. Ou não! Quem se atreve a desafiar esse esquema deve se preparar para as pedradas.
Por Deus que pessoas lúcidas nos ajudam a entender que, do lado de cá, da plebe, “a despeito de toda aparente diferença, o que se quer é rigorosamente o mesmo” (Lia Sanders).

Adriana Abreu