quinta-feira, 28 de abril de 2016

Sozinha a Cismar

Essa estrada
Esse rio seco”
(Dominguinhos e Djavan)

Não consegui escrever esta semana por motivos de: estômago embrulhado. A situação atual minou minha inspiração. Não está fácil “pensar o Brasil”. Nem ao menos matutar despretensiosamente.
Eu tinha algo rascunhado sobre o país que quero, aquele Brasil que desejo ver um dia. Elucubrações, ideias, um traço de ideologia aqui e ali. Faz algum sentido escrever sobre isso uma hora dessas? Todo dia é um 7 a 1 diferente.
É impossível evitar falar acerca do que se passa no momento, mas não me vejo escrevendo a respeito (coerência, cadê). Até porque o Facebook já nos oferece quantidade suficiente de textões bem intencionados.

Alguém diz ser “o começo da mudança”, tipo “o momento da virada”. Gostaria de estar assim otimista, na esquina da vorfreude.
Pra não passar em branco, reflitamos: o caminho não é desacreditar da atividade política; não há país sem governo. Puxado, né?
Que fique claro: minha relativa moderação não é fruto de neutralidade.
Dedos cruzados, coração apertado.

sexta-feira, 22 de abril de 2016

Estrangeirismos, empréstimos e neologismos



“Os nomes acompanham as coisas” diz um conhecido provérbio latino. Como resultante do intercâmbio desigual entre as nações, verifica-se no Brasil e em outros países periféricos um crescimento extraordinário de estrangeirismos, empréstimos e neologismos no léxico. Paralelos à vinda das utilidades provenientes do chamado Primeiro Mundo, especialmente no campo da Informática, importam-se também sistemas filosóficos, teorias econômicas, modelos de análise, comportamentos e modismos os mais variados.


O fenômeno não é novo. Após a independência política de Portugal, o Brasil, na ânsia de afirmar-se como nação, buscou influências de outros povos e a França, que na época exibia extraordinária fase de crescimento, foi escolhida como novo paradigma. Foi a vez dos francesismos ou galicismos tão condenados pelos puristas. Muitas palavras foram integradas à língua portuguesa (os empréstimos); outras conservaram a forma original, talvez por conferirem um pouco mais de status a quem os empregava (estrangeirismos); outras foram simplesmente criadas a partir  de vocábulos já existentes e aceitos pelo povo, porém com nova significação (neologismos).


A contribuição estrangeira sempre ocorreu no vocabulário de todos os povos. O hebraico, por exemplo, exerceu forte influência sobre o grego e este sobre o latim. O idioma do Lácio se impôs na Península Ibérica e se misturou com os falares dos povos dominados, provocando o surgimento das conhecidas línguas neolatinas.

No Brasil, o idioma do colonizador extinguiu as línguas crioulas, mas não ficou de todo isento de sua influência, como atestam as inúmeras palavras indígenas. O negro também conseguiu, com a sua rica contribuição para a cultura brasileira,  enriquecer significativamente o vocabulário.


Modernamente, com a globalização, juntamente com o importado, surge a necessidade de nomear urgentemente o novo produto. A velocidade com que o fenômeno ocorre, a total impossibilidade de controle das academias e entidades voltadas para o estudo do vernáculo, agravado com o seu crônico distanciamento da realidade linguística do país conduzem ao surgimento de vocábulos que muitas vezes lamentavelmente violentam grosseiramente a estrutura da língua portuguesa. Exemplo mais antigo, veja-se o vocábulo gol, que no plural recebeu o s sem a necessária presença da vogal temática e de kosovares, tradução apressada e leviana do inglês, com a presença de um sufixo indicador de adjetivo pátrio completamente estranho ao nosso sistema linguístico.


Há realidades novas que receberam designação de palavras já existentes no idioma (carreata, mensalão) e outras que surgem a partir de palavras estrangeiras (deletar, escanear). Nossa amiga Lia Sanders manifestou na última contribuição para o Matutando o Brasil a necessidade de se criar no idioma pátrio palavra correspondente ao Vorfreude, do alemão, que teria mais ou menos o sentido de antegozo por algo bom que ainda vai acontecer. A proposta é pertinente. Lembrou-me Machado em Esaú e Jacó - “há pessoas para quem o adágio que diz que “o melhor da festa é esperar por ela” resume todo o prazer da vida”. Parece não haver mesmo palavra em português que traduza com fidelidade do vocábulo tão bem referido.


Seria ingenuidade condenar a presença de estrangeiros, empréstimos e neologismos no idioma.  São eles inevitáveis e perfeitamente aceitáveis, quando necessários para denominar realidades inteiramente novas. Nestes casos, servem até para enriquecer o léxico. Muitos conferem um valor altamente expressivo, quando possuem  constituição sonora mais motivada do que o correspondente no vernáculo. A busca pela expressividade levou o já citado Machado de Assis não só a utilizá-los, mas com fina ironia a criticar a imposição de neologismos ridículos para substituir os francesismos da época.


Existem, no entanto, atualmente na língua portuguesa palavras e construções perfeitamente supérfluas, como os inúmeros estrangeirismos do chamado economês, que revelam ora o exibicionismo ridículo de quem os emprega, ora a subserviência crônica diante do que é estrangeiro, ora a busca inescrupulosa de mistificar teorias para torná-las inacessíveis à compreensão, diante da vacuidade e a inoperância de seus conteúdos e métodos.


Myrson Lima


quarta-feira, 13 de abril de 2016

O País da Vorfreude


As palavras não são supérfluas. Emplacam somente se o conceito que carregam for culturalmente relevante a ponto de exigir tais nobres condecorações. Eu me contorço mais com uma palavra incorretamente empregada que com o uso de um vocábulo fraco em detrimento de outro mais específico. “Bicho” e “coisa” cumprem lá o seu papel quando o vocabulário não chega. Andamos muito confusos com termos como golpe, elite e todas as suas derivações, mas não, não entrarei nesse mérito. A palavra que me ocupa neste texto é alemã: Vorfreude (pronuncia-se “for-froi-de”). Soa estranho, mas significa alegria antecipada ao imaginar futuros prazeres. Em uma breve pesquisa, encontrei candidatos a equivalente em Português: expectativa, antecipação. Com todo respeito ao empenho dos tradutores, nenhuma capta o real sentido do termo. Um dicionário de Português de Portugal até sugeriu antegosto como tradução, mas antegosto mais parece desgosto. Não, não funciona. Os anglo-americanos logo tratam de incorporar a seus dicionários palavras estrangeiras sem correspondente em Inglês. Gostaria de incluir Vorfreude no nosso. Troco por saudade, se inevitável. A permuta é vantajosa, argumentaria até com Fernando Pessoa... Ao invés de mirar nostalgicamente o passado, olhemos com alegria para o futuro! Vorfreude representa um salto evolutivo dos alemães, talvez até de outros povos. Acredito que diversas culturas já tenham assimilado o conceito. Vejam bem, não se trata da capacidade de se sacrificar para obter uma recompensa futura. A questão é começar a se alegrar hoje com algo que ainda está por vir, numa espécie de alegria antecipada. Júbilo dessa natureza requer certa previsibilidade, garantia de que coisas boas virão. Fácil supor que Vorfreude tenha surgido, no curso de um tenebroso inverno, como um entusiasmo crescente com a primavera que, indubitavelmente, viria. Na maior parte do Brasil, não contamos com a previsibilidade das estações do ano, nem mesmo da economia ou da política. A nossa expectativa do futuro é temerária, sofrida, depositada em santos, pendurada à controversa promessa de chuva. Ainda assim, experimentamos Vorfreude. Qual é o brasileiro que não se alegra de antemão com a perspectiva de uma esperada viagem? Ou com uma comemoração que se aproxima? Para muitos alemães, a Vorfreude supera em intensidade até a própria Freude (alegria)! Objetivo alcançado, projeto novo. Uma alegria tão intensa pelo que ainda se está a edificar energiza. Pode nutrir toda sorte de empenhos e investimentos em um estado de esperança produtiva. Advogo um lugar para Vorfreude em nossa cultura, para que a ela nos atentemos. Regozijar-se com a perspectiva dos acontecimentos pode-nos tornar genuinamente produtivos. A Stefan Zweig, austríaco, devemos o epíteto “País do Futuro”. Pensando em Alemão, o escritor – desconfio – sentiu Vorfreude pelo nosso país. Nós não captamos. Entendemos o futuro como algo distante, que nunca se alcança... Talvez só nos alegremos com o porvir, se nos empenharmos em construí-lo a contento. O que estamos esperando?

Lia Sanders

domingo, 10 de abril de 2016

A IMPORTÂNCIA DA MEDIAÇÃO DE CONFLITOS NA EDUCAÇÃO ESCOLAR



Conflito é uma palavra que não representa um aspecto específico da realidade, mas determinados tipos de relações, sendo impossível definir contornos fixos para balizar seus significados. A origem etimológica do termo vem do latim conflictu (choque, embate, antagonismo, oposição) e do verbo confligere, que significa lutar. Os conflitos sociais, portanto, se relacionam com as diferenças, sendo gerados a partir da contraposição de ideias ou de condutas. Os conflitos podem ser destrutivos, produzindo violências, mas, a depender de como sejam resolvidos, podem contribuir de forma positiva para transformações nas relações sociais.

A violência no Brasil faz parte da cultura. Figura nos modelos de relações e de autoridade, marcados pela fragilidade dos espaços para o diálogo. Em 2014, 53.240 pessoas foram assassinadas em nosso país. Em números absolutos, o Brasil é país onde mais se produz homicídios em todo o mundo. Mudar esta realidade envolve um conjunto de ações que possibilitem alterar crenças e comportamentos profundamente enraizados na sociedade. A prática da mediação de conflitos, em contexto judicial ou extrajudicial, constitui uma estratégia que pode contribuir neste processo, ajudando a refazer laços afetivos, familiares e sociais. Mesmo que os mediados não cheguem a um acordo, o processo tende a diluir as hostilidades, constituindo um modelo de interação cooperativo, que pode ser utilizado em diferentes situações de disputa.

Nas escolas brasileiras, a mediação escolar ainda está começando a se desenvolver. A experiência considerada pioneira foi a do Projeto Escola de Mediadores desenvolvida no Rio de Janeiro em 2000, pelo Instituto NOOS, Viva Rio – Balcão de Direitos, Mediare e a Secretaria Municipal de Educação, em duas escolas públicas do Município do Rio de Janeiro. A iniciativa teve o apoio do Ministério da Justiça, por meio da Secretaria Nacional de Direitos Humanos, responsável pelo Programa “Escolas de Paz”. Os resultados desse projeto foram considerados muito positivos, tendo gerado a Cartilha Escola de Mediadores, que fornece informações sobre os processos de mediação, bem como de implementação da mediação escolar.

A mediação faz parte dos chamados meios Apropriados de Resolução de Disputas (RADs), que surgiram na década de 70 nos Estados Unidos da América e se espalharam rapidamente pelo mundo ocidental. Inicialmente, a sigla RADs significava Resolução Alternativa de Disputas, englobando os métodos alternativos ao julgamento pelo Judiciário. Os meios Apropriados de Resolução de Disputas englobam, entre outros, mediação, negociação, arbitragem e conciliação. Na mediação existe uma terceira pessoa que visa restabelecer o diálogo entre as partes (mais utilizada em situações onde existe um vínculo entre os envolvidos no conflito); na negociação não existe a terceira pessoa, as partes resolvem o problema diretamente; na conciliação, a terceira pessoa interfere ativamente visando a possibilitar um acordo; e na arbitragem uma terceira pessoa é eleita para tentar resolver o conflito.

Na Justiça brasileira, não existe ainda consolidada uma cultura que valorize os RADs, mas crenças que estimulam a resolução das querelas por meio de processos nos tribunais. Um importante passo para mudar essa realidade foi a criação da Lei 13. 140, que dispõe sobre a mediação judicial e extrajudicial na resolução de conflitos, publicada no Diário Oficial da União no dia 26 de junho de 2015 e passando a vigorar a partir de janeiro de 2016. Segundo o texto da Lei, fica determinado que qualquer conflito negociável possa ser mediado, com exceção dos que tratarem de filiação, adoção, poder familiar, invalidade de matrimônio, interdição, recuperação judicial ou falência. A Lei determina também que a mediação, além de presencial, pode ser realizada pela internet ou por meio de comunicação que permita o acordo à distância.

Cabe lembrar que a mediação escolar implica outra concepção de poder, mais horizontal, onde os sujeitos envolvidos em conflitos possuem um papel ativo na sua superação.  O poder de decisão deixa de se concentrar nas mãos dos educadores e passa a circular também entre os estudantes. Este parece ser o grande desafio para os gestores das escolas brasileiras: abrir mão de um modelo de poder centralizador e punitivo em nome de um modelo mais democrático e participativo. Desafio que não encontra como maior obstáculo os entraves burocráticos da máquina administrativa do Estado, mas envolve questões que a escola possui autonomia para resolver.

O problema central, tudo indica, é a existência de uma cultura escolar bastante enraizada, descrente na utilização de estratégias democráticas para enfrentar os problemas cotidianos.  Dito e outra forma, as escolas brasileiras, no geral, não acreditam no diálogo. Ainda é muito forte a presença de modelos de poder totalitários, onde não existem maiores espaços para divergências. Os ideais pedagógicos dominantes ainda estão voltados para produzir homogeneizações. Seja na escola ou na família, o ideal de pessoa continua sendo o sujeito que aceita se submeter à ordem estabelecida sem maiores questionamentos. Os conflitos de interesses ainda são tratados sobre o signo da rebeldia e da desobediência, logo, passíveis de punição.

No Brasil são poucos os estudos sobre experiências de mediação de conflitos na escola, exigindo uma avaliação cuidadosa das possibilidades de implantação desse método, que não deve ser feito por pessoas desqualificadas. A nossa histórica tradição de autoritarismo e descrença no diálogo não será desfeita da noite para o dia. As escolas sempre culparam o estudante pelo fracasso dos seus programas, sem um olhar mais crítico sobre si mesmo. As chances de experiências de mediação funcionarem dentro de uma instituição antidemocrática, que não se implica com as ações que ocorrem no seu interior, são frágeis. A crença na justiça e no respeito às regras de convívio coletivo se fortalecem em um ambiente onde existe diálogo. Esse é o princípio fundamental da democracia e um grande desafio para as escolas brasileiras no século XXI. Não há como educar jovens forjados em uma cultura individualista, que tem como pressuposto básico a liberdade de escolha, de maneira unilateral, através de imposições e castigos.


Antônio Lima



sábado, 2 de abril de 2016

A Luneta Mágica


Joaquim Manuel de Macedo (1820-1882), médico, escritor, dramaturgo e jornalista carioca, famoso autor de A Moreninha, obra que em 1844 traçou a estreia do romance nacional brasileiro, escreveu em 1869 (século XIX) A Luneta Mágica, menos conhecida do que a primeira, mas cabendo aqui sobre ela uma boa “matutada”.
A obra tem como narrador e personagem central Simplício, que inicia: “Chamo-me Simplício e tenho condições naturais ainda mais tristes do que o meu nome. Nasci sob a influência de uma estrela maligna, nasci marcado com o selo do infortúnio. Sou míope; pior do que isso, duplamente míope, física e moralmente.”
De fato, Simplício não enxergava a um palmo do nariz (miopia física), o que não permitia que visse imagens e aparências, ou seja, não teria condições de “julgar pelas aparências”. E, sabe-se lá, devido a isso ou à coisa nenhuma, também não conseguia associar ideias (miopia moral), o “Lé com o cré”, como dizem na boa e colorida linguagem do cotidiano, dando a impressão de ser um parvo, um bobo, não ter opinião sobre nada, absolutamente. Daí, seu maior sonho: poder ver as coisas como elas realmente eram como se fosse isso possível...
Aparentemente irônico isso lhe bastaria um par de óculos. Como tinha recursos, não seria problema, mas já havia experimentado vários e nada. Foi quando lhe apresentaram um mago Armênio, residente na rua do Hospício, que se dizia com o poder de lhe oferecer uma luneta mágica entendendo que a “luneta” a que se refere o livro é um monóculo que deveria ser usada apenas durante três minutos, advertência do mago, pois a partir de então, seu possuidor passaria a ter a “visão do mal”, ou seja, ver o mal de todas as coisas e pessoas. E, com mais de 13 minutos, ele teria também o poder de enxergar o futuro e, então, a luneta se despedaçaria. Huuummm.
Foi quando Simplício, como é absolutamente humano e imperfeito, desobedece a ordem de não ultrapassar os três minutos e descobre então toda a maldade e rudeza de um mundo, despertando o seu espírito de sonolenta inocência.
Num segundo momento, recebe outra luneta, com os mesmos atributos, só que, ao invés de ter a “visão do mal”, tem a “visão do bem”, passando a ver apenas o lado bom de tudo e de todos.
Não irei oferecer aqui mais spoilers. Já basta. Que os interessados leiam Macedo, ele merece. Comecemos então a pensar nessa simplícica visão do bem e do mal.
Ora, Macedo, em um momento de seu livro, como costume, filosofa:
“A exageração degenera os sentimentos, desvirtua os fatos, desfigura a verdade. Exagerar é mentir. No mundo há o bem e o mal, como há na vida o prazer e a dor. Mas o bem é o bem, o mal é o mal como eles são e não podem deixar de ser para a humanidade que é imperfeita: perfeito bem, absoluto mal não há para ela. [...] homens absolutamente maus ou absolutamente bons não são possíveis, nem se compreendem. Estudar o mundo e os homens, observando-os pela enfezada lente do pessimismo é tão perigoso e falaz como estudá-los observando-os pelo imprudente prisma do otimismo.”
O povo também brasileiro, tão incipiente de leitura e de maquinário intelectual, sem opiniões ou julgamentos próprios pelo menos os mais elaborados , como Simplício, tão facilmente conduzido por aquilo que aparentemente se vê, ou pelo que as suas lunetas televisivas e/ou midiáticas apresentam num alardeado pessimismo ou otimismo, conforme interesses e objetivos de quem as dominam [refiro-me, prestem atenção, às lunetas], parece perdido, numa caravana de ódio e de desespero, precipitado como os bárbaros nos tempos mais remotos, movido por instinto de sobrevivência, raivoso e aguerrido numa batalha gratuita em campo aberto porém com protetor solar de farmácia , numa disseminação de inverdades, tomado pelo show pirotécnico do grande coliseu judiciário, embasbacado com o espetáculo da corrupção, como se, pela primeira vez, lhe fosse desvendada a maldade humana. Haja Cabral... Quanta inocência.
O povo noveleiro, sempre imerso na sua ridícula vida individual, com a barriga cheia de si e dos seus, na busca dos penduricalhos materiais, de repente se vê convocado pelos titãs os manda-chuvas e pais adotivos da maracutaia que sempre lhe comandaram a vida. E ele, povo ignaro, de então, acha-se militante, coloca a camisa da corrupta CBF, representando o que chama de sua pátria, “ó mãe tão esquecida”, mas sem reconhecer-lhe a maternidade, a agride com verborragia desnecessária, contraditória, ensandecida, nunca que preocupado com seu país, com os famintos ou desassistidos, mas com o calo que lhe é apertado por aquele Nike comprado no shopping dos brilhantes.
Ou aquele povo, aquele que se insere nas ditas lutas sociais, que grita, berra, anda de alpercatas porque esconde os sapatos italianos para outras ocasiões mas que na verdade tem pretensões de vagas e cargos no governo, que defende a SUA camisa, o SEU partido e não o seu país e/ou aqueles filhos mais explorados ou excluídos. Aquele que se diz e às vezes acredita mesmo “politizado”, mas na verdade é apequenado pelo seu ideal individual de crescimento ou parasitismo político, tal qual aqueles que ali estão desembarcando do atual governo, feito ratos, sem merecer os votos que receberam nem as calças que vestem.
São iguais. Ambos os “povos”. Usando as lunetas que lhes deram, veem o bem e/ou o mal a seu bel prazer, como lhe convém. Julgando-os como absolutos, criando uma batalha sem sentido com palavras bonitas como “democracia”, que poucos sabem o que representa a não ser o seu querer único e indivisível. Seu egoísmo pátrio de torcida organizada.
Resta-nos saber que entre um povo e o outro existem pessoas dignas, honradas, críticas, sérias. Pessoas com princípios que não precisam ou não vivem para uma coisa ou outra, mas têm a noção do outro, da divisão, são sensíveis e defendem o seu país por entenderem o que é chão, semeadura e colheita. São pessoas bem formadas, não necessariamente com diplomas ou letradas, com caráter, curiosas e sedentas da descoberta da liberdade, da fraternidade e da união.
A guerra que assistimos hoje é insana e nós a criamos durante anos, como uma doença que silenciosamente nos toma de repente, fruto de um movimento histórico e social de alienação, de capitalismo predador como se existisse outro tipo , ganância, ambição, de adoração e manutenção daquilo que nos consome, que consumimos e que desperdiçamos, numa mentira não tão dura até ser contada para nós mesmos.
Quanto de mal ou de bem trazemos conosco? Quem é bom ou ruim nessa história?

A luneta do bom senso é a melhor, mas pertence a poucos. Cuidado, meus amigos e amigas: “Exagerar é mentir!”
Raymundo Netto