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Existe um
Brasil obsoleto, que parasita instituições e engorda às suas custas. Esse
Brasil não tem peso na consciência, gira com risíveis eixos no centro de seus
interesses. É o Brasil dos “espertos”, do salve-se quem puder, um Brasil de
méritos restritos à habilidade de bem navegar nas tramas do covarde poder já
estabelecido; um Brasil que ingenuidades como a minha insistiam em negar, talvez por incapacidade de navegar em seus
meandros. A questão de tempo que nos separa de um país decente agora impacienta. É o
que acontece quando se para de negar a realidade. Em passo mais lento do que
gostaríamos, ocorrerá, sim, a tão sonhada transição entre um Brasil de feitores, de
arremedos de gente que assimilou o caráter do explorador europeu e se abancou
de setores públicos maiores ou menores, como se fossem os donos da quitanda, e
uma classe de gente mais técnica, indisposta a favores e beija-mãos. O país compulsivamente corrupto, nas mais diversas instâncias,
não tarda a cair. É questão de putrefação, de irrefreável evolução. A
renovação inevitavelmente se dará. Mesmo quem ainda, por alguma sorte de
malemolência ou ocasião, agradar ao caquético modelo feudal e nele conseguir
penetrar já será infinitamente superior a quem dele outrora se apossava. Os
velhos coronéis cairão. O anacronismo entre decadentes brutamontes com delírios
de rei Sol e o desejo de idoneidade da grande maioria torna-se cada dia mais
patente. Num prenúncio de novos tempos, as raposas políticas já farejam seu
pouco tempo de vida. Negam, explodem de raiva, barganham. Ocultos sob a sombra
de uma enorme comoção nacional, pervertem medidas anticorrupção de iniciativa
popular. Enquanto nosso legislativo faz o que não deve para prosseguir na
farra com o dinheiro alheio (estima-se o custo anual de cada parlamentar
em dez milhões e duzentos mil reais), o povo brasileiro se articula para voltar às
ruas. Só a pressão popular pode levar o velho esquema à agonia. Que a ingenuidade
não leve consigo a esperança! Um outro Brasil está germinando.