quarta-feira, 3 de agosto de 2016

Esquerdismo gera violência?


"Dizem que em algum lugar, parece que no Brasil, existe um homem feliz". Essa frase é atribuída ao poeta russo Vladimir Mayakovsky (1896-1930). Em 2014, quase 60.000 pessoas no Brasil foram assassinadas. Recorde mundial. Será que a palavra pertinente do autor russo foi o "parece"? A taxa de homicídios é o índice de violência mais acurado (já que muitos roubos e agressões não são registrados), e aumenta em números absolutos e em números proporcionais à população brasileira há décadas. Quais são as causas desse aumento absurdo de violência presenciada no Brasil? Minha educação com mestres predominantemente marxistas nos meus até agora 26 anos de estudo tentou me convencer de que as questões sócio-econômicas (o grande número de pobres e a enorme desigualdade sócio-econômica brasileira) e as questões históricas, como influência de nossos ascendentes perversos e exploradores são as principais causas do aumento da violência em nosso país. Mais recentemente, tenho escutado muito que a violência aumentou por conta das drogas ilícitas. Não sou especialista neste assunto, mas, dados públicos parecem sugerir que isso não é verdade.

Os gráficos a seguir não levantam dúvidas de que o crime aumentou no Brasil no mesmo período em que melhoraram as condições sócio-econômicas. Isso é fato. Sendo as questões sociais uma causa de aumento de violência, esta não deveria melhorar quando as questões sociais melhoram? Quanto mais as condições sócio-econômicas melhoram, segundo os mestres marxistas, menor deveria se tornar o índice de violência. No Brasil, nas últimas décadas, ocorreu o contrário: houve melhora sócio-econômica, porém a violência piorou. 


Fonte: IPEA


Dados de 1980 a 2002. Fonte: IPEA


Dados de 1980 a 2002. Fonte: IPEA


Fonte: IPEA

A herança cultural como influência no aumento da violência, perdoem-me, não possui plausibilidade, já que a crescente violência a que me refiro é a violência atual, que cresceu ao longo dos anos do século XX, enquanto as questões culturais foram fatos dos séculos XV-XIX. Caso estivéssemos falando da violência nesse período, faria sentido, mas, o crescimento dos números de violência entre 1960-2010 não pode ser algo atribuído ao tipo de imigração que ocorreu entre 1500-1900. Acho que isso nem merece discussão. A miscigenação e herança cultural da população brasileira em 1910 e em 1960 eram basicamente as mesmas.

Muitos falam ainda que, no Brasil, a violência ocorre porque aqui não há penas severas e há grande impunidade. Contra isso, levanto a pergunta: as punições eram mais severas em 1950 do que atualmente? A polícia conseguia desvendar mais homicídios em 1950 do que nos dias atuais? Mais uma vez, parece que essa não é a resposta.

Sobre a questão das drogas, de fato, as estatísticas mostram que houve um aumento do consumo de drogas no Brasil nas últimas décadas. Faz sentido, do ponto de vista estatístico, portanto, que as drogas tenham relação com aumento de criminalidade (ambos cresceram). Contra isso, no entanto, mostro o seguinte gráfico. 




É bem nítido que os países mais seguros do mundo possuem uma porcentagem muito elevada de pessoas que usam drogas. Eles são seguros apesar do enorme consumo de drogas, muitos com frequência de uso maior que a do Brasil (como a Austrália, país liberal desenvolvido com baixo nível de criminalidade, que aparece com maior porcentagem de usuários de cocaína). As substâncias psicoativas sempre estiveram presentes na humanidade. O lança-perfume já foi permitido no Brasil, como ainda são o álcool e o fumo. 

Será que as drogas são o vilão brasileiro que elevou a violência? Talvez, mas, nesse mesmo período em que tem havido um aumento de violência no Brasil, outra coisa também aumentou: o esquerdismo. Do ponto de vista estatístico, portanto, pode haver uma correlação entre esquerdismo e violência.

O esquerdismo no Brasil a que me refiro não é o governo esquerdista, é a mentalidade esquerdista de nosso povo. É praticamente um consenso entre os brasileiros que o Estado deve ser grande o suficiente para prover várias necessidades, como educação, saúde, transportes, justiça, e ainda gerir empresas como bancos e petroleiras. É algo tão enraizado, que poucos param para questionar se é realmente pertinente que alguns dos maiores bancos do país sejam do governo. Não foi sem traumas que empresas telefônicas e aeroportos foram entregues à iniciativa privada. Foi por necessidade, não por convicção. Poucos brasileiros possuem o espírito liberal de acreditar nos poderes do livre mercado e do Estado mínimo. Alguém já viu um partido político ou candidato defender menos impostos e menos direitos? Os nossos partidos supostamente de direita, como o PSDB, implementaram uma agenda contrária ao liberalismo, pois ampliaram o SUS e criaram programas de transferência direta de renda, além de terem aumentado a carga tributária. O partido republicano dos Estados Unidos afirma abertamente na TV que cada indivíduo deve pagar por suas contas médicas. Alguém aqui no Brasil já ouviu isso de algum partido? Pois é, somos um país de esquerdistas...

Este sentimento estatista, coletivista, parece ter surgido e crescido ao longo do século XX, provavelmente impulsionado pelos anos de ditadura entre 1964-1985. Os militares de 1964, apoiados pelos Estados Unidos, tomaram o poder para, supostamente, evitar a ascenção do Comunismo no país. Com as medidas repressivas do governo, diversos segmentos passaram a criticar a ditadura. Pouco a pouco, o sentimento coletivista tornou-se praticamente unânime entre os diretórios estudantis e entre os professores universitários e, como eu, muitos que estudaram a partir das décadas de 70 e 80 passaram a receber uma doutrinação marxista e anti-mercado nas escolas brasileiras, mesmo nos caros colégios particulares. A luta contra a ditadura uniu diversos setores da sociedade. Os defensores da democracia passaram a ser aliados dos defensores do comunismo numa luta cultural e armada contra o regime ditatorial. Se a luta era contra a ditadura, e a ditadura havia surgido para evitar o comunismo, parece lógico que quem era contra a ditadura se tornou também, em algum grau, contra o capitalismo. Com o fim da Ditadura, surgiu nossa Constituição que instituiu mais direitos, a carga tributária subiu de 20% para 35% do PIB e, em 2002, o Partido dos Trabalhadores chegou ao poder, parece que coroando o sentimento esquerdista das décadas anteriores. Observando os dois mapas a seguir, conseguimos perceber uma clara coincidência entre liberalismo econômico e segurança pública, ou seja, os países mais economicamente livres são os mesmos que possuem baixa criminalidade. Será coincidência?


Taxa de homicídios pelo mundo
Índice de liberdade econômica pelo mundo

Certa vez li um texto filosófico sobre crimes, em que um autor defendia haver apenas um tipo de crime no mundo: o roubo. Roubar, segundo esse autor, seria retirar de alguém algo que não lhe pertencesse. Para ele, os mais diversos crimes eram, todos, roubos. Homicídio, por exemplo, seria roubar a vida de alguém. Estupro seria um roubo da dignidade ou do livre arbítrio de negar algo a alguém; plágio, roubo da produção intelectual; furto, roubo sem violência. E por aí seguiriam todos os crimes. Só haveria, portanto, um crime: o roubo. Não lembro quem escreveu, mas é um conceito interessante. 

Em qualquer situação, para haver roubo, é necessário haver posse. Só se rouba algo de alguém, se esse alguém possuir algo. Possuir algo pressupõe que coisas podem ser de alguém, ou seja, pressupõe a existência da propriedade. Só há "roubo", portanto, em uma sociedade que permite propriedades privadas. Há, no entanto, correntes de pensamento que são contra a propriedade privada. Os marxistas afirmam que os ricos possuem mais do que precisam. "Possuir mais do que precisa" levou à ideia de que posses deveriam ser confiscadas e redistribuídas. Para que ninguém possua mais do que o necessário, ou mais do que "o outro", chegaram a propor que propriedade privada não deveria existir. De modo interessante, não permitindo a existência de "propriedade", o marxismo acabou, a meu ver, com a possibilidade de "roubo", já que só se rouba de alguém algo que seja desse mesmo alguém.

Roubar um relógio Rolex de um artista rico da TV é roubo? Para ser roubo, o relógio precisa ser dele. Para um marxista, possuir um relógio Rolex é um luxo desnecessário e supérfluo. Se um rico não deveria ser dono de um Rolex, é roubo retirar o Rolex do rico? Muitos acreditam que o ladrão do Rolex não cometeu infração relevante, pois é vítima de uma sociedade desigual. Além disso, um Rolex a menos não significa nada para um milionário.

Há alguns meses uma jovem foi fotografada de costas, numa praia do Rio de Janeiro, no exato momento em que um jovem punha a mão em seu celular, que estava no bolso de trás de seu short. Seu celular roubado gerou muita discussão. 

http://oglobo.globo.com/rio/orla-da-zona-sul-voltou-ser-alvo-de-assaltos-nesta-segunda-feira-17558563

A imagem, impactante, foi divulgada amplamente, e muitos se solidarizaram com o jovem ladrão, pois ele aparentava ter poucas condições financeiras. Em outras palavras, tolerou-se o roubo do celular baseado no fato de o jovem ser economicamente desfavorecido. O roubo foi tolerado por muitos. Chegaram a culpar a jovem furtada, pois "quem mandou andar de iPhone na praia?". O fato de a jovem roubada ter-se manifestado como trabalhadora que havia comprado o celular, na verdade um smartphone mais simples, à prestação abrandou a tolerância para com o rapaz, como se a situação econômica da vítima fosse relevante para o correto julgamento do infrator. Por que houve quem defendesse que o rapaz poderia ter tido o direito de roubar aquele celular? Muitos dos defensores do rapaz são os mesmos que defendem que não deve haver propriedade privada. Em outras palavras, os que o defenderam são os mesmos que acreditam, consciente, ou inconscientemente, "não haver roubo", pois a posse daquele objeto seria ilegítima.

Sempre que o direito à posse for livre, haverá os que possuem mais do os outros. Para corrigir essa "injustiça", muitos são contra "o direito de possuir", ao menos, em parte. Os comunistas defenderam a não existência da propriedade privada (usurpação total das posses individuais); hoje em dia, os estatistas, defendem "impostos sobre grandes fortunas" (ou seja, a usurpação parcial das posses individuais - muda o quantitativo, mas o qualitativo de proibir posses se mantém). Será que uma educação baseada na premissa de que propriedade privada não deveria existir (totalmente, como dizem os comunistas, ou parcialmente, como defendem os estatistas) não torna, automaticamente, aceitável o roubo? Como respeitar algo do outro, se a educação disse que não é correto "possuir"? Se "ser dono" é errado, qual o problema de subtrair algo de alguém? Se não é correto possuir, qual o problema em usurpar um terreno desocupado? Ou reivindicar uma fazenda de um fazendeiro rico? Quem sabe, não sendo correto haver propriedade, deixa de ser errado roubar uma bolsa no semáforo, deixa de ser errado clonar o cartão de crédito de outra pessoa. Talvez deixe de ser errado copiar um livro, já que o conhecimento deveria ser sempre de todos. Sendo assim, por que é errado tirar vidas? Será coincidência que o Brasil, terra onde os intelectuais culpam os "que tem posse" por todas as mazelas, seja campeão mundial no número de pessoas mortas por homicídios?

Diferentemente de seus pais ou avós, educados no Brasil católico que ameaçava os pecadores com a punição do inferno, o rapaz do roubo do celular foi educado (ou ao menos frequentou a escola) no Brasil dos últimos anos. Sabe-se que há um predomínio maciço do pensamento marxista-estatizante (ou esquerdista) entre os professores do Brasil pelo menos desde a Ditadura Militar. Quanto de influência marxista este jovem recebeu é difícil de se saber, mas talvez ele também ache que não é "justo" uns terem mais do que outros. Talvez, inconscientemente, ele acredite que a propriedade privada não deveria existir, ao menos em parte, então, assim, ele não roubou, pois o celular não era, ou não deveria ser, daquela moça. O rapaz que a roubou pode achar mesmo que roubar não é errado. Se roubar é permitido, então é por isso que o Brasil tem 60.000 homicídios (roubos de vida) por ano? Acredito na Ciência, nos estudos científicos, como melhor maneira de se chegar a uma verdade. Infelizmente, nunca fiz e nem encontrei estudos sobre esta minha teoria, mas, do ponto de vista da temporalidade, da coerência e da plausibilidade, a relação entre esquerdismo e violência deve ser levada à consideração.

Nenhum comentário:

Postar um comentário