sexta-feira, 22 de abril de 2016

Estrangeirismos, empréstimos e neologismos



“Os nomes acompanham as coisas” diz um conhecido provérbio latino. Como resultante do intercâmbio desigual entre as nações, verifica-se no Brasil e em outros países periféricos um crescimento extraordinário de estrangeirismos, empréstimos e neologismos no léxico. Paralelos à vinda das utilidades provenientes do chamado Primeiro Mundo, especialmente no campo da Informática, importam-se também sistemas filosóficos, teorias econômicas, modelos de análise, comportamentos e modismos os mais variados.


O fenômeno não é novo. Após a independência política de Portugal, o Brasil, na ânsia de afirmar-se como nação, buscou influências de outros povos e a França, que na época exibia extraordinária fase de crescimento, foi escolhida como novo paradigma. Foi a vez dos francesismos ou galicismos tão condenados pelos puristas. Muitas palavras foram integradas à língua portuguesa (os empréstimos); outras conservaram a forma original, talvez por conferirem um pouco mais de status a quem os empregava (estrangeirismos); outras foram simplesmente criadas a partir  de vocábulos já existentes e aceitos pelo povo, porém com nova significação (neologismos).


A contribuição estrangeira sempre ocorreu no vocabulário de todos os povos. O hebraico, por exemplo, exerceu forte influência sobre o grego e este sobre o latim. O idioma do Lácio se impôs na Península Ibérica e se misturou com os falares dos povos dominados, provocando o surgimento das conhecidas línguas neolatinas.

No Brasil, o idioma do colonizador extinguiu as línguas crioulas, mas não ficou de todo isento de sua influência, como atestam as inúmeras palavras indígenas. O negro também conseguiu, com a sua rica contribuição para a cultura brasileira,  enriquecer significativamente o vocabulário.


Modernamente, com a globalização, juntamente com o importado, surge a necessidade de nomear urgentemente o novo produto. A velocidade com que o fenômeno ocorre, a total impossibilidade de controle das academias e entidades voltadas para o estudo do vernáculo, agravado com o seu crônico distanciamento da realidade linguística do país conduzem ao surgimento de vocábulos que muitas vezes lamentavelmente violentam grosseiramente a estrutura da língua portuguesa. Exemplo mais antigo, veja-se o vocábulo gol, que no plural recebeu o s sem a necessária presença da vogal temática e de kosovares, tradução apressada e leviana do inglês, com a presença de um sufixo indicador de adjetivo pátrio completamente estranho ao nosso sistema linguístico.


Há realidades novas que receberam designação de palavras já existentes no idioma (carreata, mensalão) e outras que surgem a partir de palavras estrangeiras (deletar, escanear). Nossa amiga Lia Sanders manifestou na última contribuição para o Matutando o Brasil a necessidade de se criar no idioma pátrio palavra correspondente ao Vorfreude, do alemão, que teria mais ou menos o sentido de antegozo por algo bom que ainda vai acontecer. A proposta é pertinente. Lembrou-me Machado em Esaú e Jacó - “há pessoas para quem o adágio que diz que “o melhor da festa é esperar por ela” resume todo o prazer da vida”. Parece não haver mesmo palavra em português que traduza com fidelidade do vocábulo tão bem referido.


Seria ingenuidade condenar a presença de estrangeiros, empréstimos e neologismos no idioma.  São eles inevitáveis e perfeitamente aceitáveis, quando necessários para denominar realidades inteiramente novas. Nestes casos, servem até para enriquecer o léxico. Muitos conferem um valor altamente expressivo, quando possuem  constituição sonora mais motivada do que o correspondente no vernáculo. A busca pela expressividade levou o já citado Machado de Assis não só a utilizá-los, mas com fina ironia a criticar a imposição de neologismos ridículos para substituir os francesismos da época.


Existem, no entanto, atualmente na língua portuguesa palavras e construções perfeitamente supérfluas, como os inúmeros estrangeirismos do chamado economês, que revelam ora o exibicionismo ridículo de quem os emprega, ora a subserviência crônica diante do que é estrangeiro, ora a busca inescrupulosa de mistificar teorias para torná-las inacessíveis à compreensão, diante da vacuidade e a inoperância de seus conteúdos e métodos.


Myrson Lima


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