Por estes dias escutei de uma paciente: “O ano já começou assim, com o
povo se matando um ao outro.” O desgosto era visível no seu rosto, e a
desesperança, evidente. A julgar pelos comentários ditos por amigos e lidos em
jornais e redes sociais, a impressão é de que, exceto pelos bons momentos e
conquistas, a maioria está farta – e com indigestão – do ano passado, sofrendo
de amargo e doloroso refluxo de situações e conjunturas diversas, muitas delas
agregadas sob o nome de “crise” (que, apesar de ter começado antes, ficou mais
evidente em 2016). A insatisfação com os políticos em geral, independentemente
de partidos, roubou o palco das indignações populares. Vem à lembrança, neste
momento, o verbete “Política interna” do Dicionário Filosófico de Voltaire (Ed.
Martin Claret, 2002), que começa assim: “Consiste em possuir em vosso próprio
país o maior poder, as maiores honras e os maiores prazeres que forem
possíveis. Só se consegue com muito dinheiro.”
Tais sentimentos foram em parte amenizados pelo combate à corrupção, que
tem trazido de fato algo diferente no modo como as coisas são feitas no Brasil.
E não é só por aqui. A Suíça, destino predileto de dinheiro desviado, começou a
desmontar seu sistema de sigilo bancário neste início de ano. Espera-se que, apesar
dos interesses contrários de certos poderosos, pelo menos algumas medidas
eficazes nesse combate permaneçam firmes.
Neste começo de 2017, também se percebe um sentimento crônico agudizado
de apreensão pelo que está por vir, bastante devido às propostas polêmicas que
deverão ser votadas. Propostas que mexem com o bolso, com valores morais, com
posições. A expectativa é de acaloradas discussões e protestos. Algo
preocupante é com que base as pessoas vão debater e entender os debates sobre
esses pontos.
Supõe-se que, para defender uma posição sobre dado assunto, um indivíduo
tenha que possuir informações bem fundamentadas sobre a matéria em questão.
Ainda mais quando se trata de significativas questões em votação. Mas parece
que isso não é prática corrente em vários lugares. Um exemplo marcante, na
verdade já muito difundido, é o da saída do Reino Unido da União Europeia – o
famoso Brexit –, em junho passado. Sem entrar no mérito da
decisão da maioria dos britânicos votantes, chamou a atenção que, após o resultado
da votação ter sido anunciado, a segunda pergunta mais pesquisada por
britânicos no Google foi “o que é União Europeia”. Se esse dado divulgado está
correto, é perturbador imaginar o que várias dessas pessoas estavam
considerando quando tomaram suas decisões.
Um termo curioso que, como a crise, já existia mas se evidenciou no ano
passado, foi eleito pelo Dicionário Oxford “a palavra do ano”: chama-se post-truth,
traduzido como “pós-verdade”, cujo conceito é: “que se relaciona ou denota
circunstâncias nas quais fatos objetivos têm menos influência em moldar a
opinião pública do que apelos à emoção e a crenças pessoais”. Esse termo foi
extensivamente aplicado ao Brexit e associado à vitória de
Donald Trump e ao discurso de direita (como se fosse artimanha exclusiva de um
grupo político). Não se trata aqui de discutir quais notícias são falsas, quais
informações são boatos e por quais redes sociais, jornais ou revistas circulam.
Esse fenômeno revela uma disposição e uma atitude mental perigosa para os debates
saudáveis e as decisões conscientes. Parece que não importa o conhecimento, o
saber, a objetividade. “Cada qual que se feche em seu mundinho e veja só o que
quer ver.”
Conhecimento e sabedoria para discernir entre tantas informações. Este
blog tem frequentemente abordado essa questão. Espero que faça parte de nossos
votos, neste começo de ano (não deixemos só para depois do Carnaval!), buscar
mais conhecimento e sabedoria. Vamos precisar! Por estes dias escutei de uma paciente: “O ano já começou assim, com o
povo se matando um ao outro.” O desgosto era visível no seu rosto, e a
desesperança, evidente. A julgar pelos comentários ditos por amigos e lidos em
jornais e redes sociais, a impressão é de que, exceto pelos bons momentos e
conquistas, a maioria está farta – e com indigestão – do ano passado, sofrendo
de amargo e doloroso refluxo de situações e conjunturas diversas, muitas delas
agregadas sob o nome de “crise” (que, apesar de ter começado antes, ficou mais
evidente em 2016). A insatisfação com os políticos em geral, independentemente
de partidos, roubou o palco das indignações populares. Vem à lembrança, neste
momento, o verbete “Política interna” do Dicionário Filosófico de Voltaire (Ed.
Martin Claret, 2002), que começa assim: “Consiste em possuir em vosso próprio
país o maior poder, as maiores honras e os maiores prazeres que forem
possíveis. Só se consegue com muito dinheiro.”
Tais sentimentos foram em parte amenizados pelo combate à corrupção, que
tem trazido de fato algo diferente no modo como as coisas são feitas no Brasil.
E não é só por aqui. A Suíça, destino predileto de dinheiro desviado, começou a
desmontar seu sistema de sigilo bancário neste início de ano. Espera-se que, apesar
dos interesses contrários de certos poderosos, pelo menos algumas medidas
eficazes nesse combate permaneçam firmes.
Neste começo de 2017, também se percebe um sentimento crônico agudizado
de apreensão pelo que está por vir, bastante devido às propostas polêmicas que
deverão ser votadas. Propostas que mexem com o bolso, com valores morais, com
posições. A expectativa é de acaloradas discussões e protestos. Algo
preocupante é com que base as pessoas vão debater e entender os debates sobre
esses pontos.
Supõe-se que, para defender uma posição sobre dado assunto, um indivíduo
tenha que possuir informações bem fundamentadas sobre a matéria em questão.
Ainda mais quando se trata de significativas questões em votação. Mas parece
que isso não é prática corrente em vários lugares. Um exemplo marcante, na
verdade já muito difundido, é o da saída do Reino Unido da União Europeia – o
famoso Brexit –, em junho passado. Sem entrar no mérito da
decisão da maioria dos britânicos votantes, chamou a atenção que, após o resultado
da votação ter sido anunciado, a segunda pergunta mais pesquisada por
britânicos no Google foi “o que é União Europeia”. Se esse dado divulgado está
correto, é perturbador imaginar o que várias dessas pessoas estavam
considerando quando tomaram suas decisões.
Um termo curioso que, como a crise, já existia mas se evidenciou no ano
passado, foi eleito pelo Dicionário Oxford “a palavra do ano”: chama-se post-truth,
traduzido como “pós-verdade”, cujo conceito é: “que se relaciona ou denota
circunstâncias nas quais fatos objetivos têm menos influência em moldar a
opinião pública do que apelos à emoção e a crenças pessoais”. Esse termo foi
extensivamente aplicado ao Brexit e associado à vitória de
Donald Trump e ao discurso de direita (como se fosse artimanha exclusiva de um
grupo político). Não se trata aqui de discutir quais notícias são falsas, quais
informações são boatos e por quais redes sociais, jornais ou revistas circulam.
Esse fenômeno revela uma disposição e uma atitude mental perigosa para os debates
saudáveis e as decisões conscientes. Parece que não importa o conhecimento, o
saber, a objetividade. “Cada qual que se feche em seu mundinho e veja só o que
quer ver.”
Conhecimento e sabedoria para discernir entre tantas informações. Este
blog tem frequentemente abordado essa questão. Espero que faça parte de nossos
votos, neste começo de ano (não deixemos só para depois do Carnaval!), buscar
mais conhecimento e sabedoria. Vamos precisar!
Nenhum comentário:
Postar um comentário